Essa vida é mesmo coisa engraçada, não é? Ainda me lembro como se fosse ontem da época em que minhas conversas giravam em torno de músicas e livros "da moda" e o que mais importava nessa vida era decorar na aula de geografia a posição de todas aquelas linhas paralelas invisíveis que aprendi dividem o nosso amado planetinha em zonas. Naquela época eu era terceira série e não importava o quanto rascunhasse, a professora Cláudia sempre conseguia fazer "aquela" bagunça no quadro, puxando setas em todas as direções e me mostrando que nem todas as canetinhas coloridas do mundo poderiam me ajudar naquela difícil missão. Naquele tempo não tinha muito talento em fazer amizades e a única companhia que tinha na escola era Lara. A companhia continuou e, os trópicos poderiam até continuar esquecidos não fossem as conversas que temos tido ultimamente.
"Está livre hoje?" é como quase sempre começam os diálogos que na maioria das vezes rendem uma tarde de um filme só. Enquanto assistimos o tal filme conversamos sobre outros filmes, sobre livros e sobre tudo e um dia me ocorreu que as nossas conversas assemelhavam-se muito ao quadro da professora Cláudia: cheias de "setinhas" coloridas em todas as direções e cruelmente confusas à um olhar clandestino. De repente me vi aplicando esse raciocínio a um campo maior, o da vida. Visualizei as linhas imaginárias que nos dividem nessas nossas zonas familiares e de amizade e que de vez em quando parecem tão intransponíveis quanto barreiras visíveis e dei-lhes o nome bobo de paralelas do conforto. Voltei-me então para as setas coloridas que legendavam e caracterizavam cada trópico e batizei-as com nomes de amigos. Achei melhor assim, com nomes amigos as paralelas ficam muito mais confortáveis.
Em certo momento me peguei revendo lembranças de cada um dos amigos, onde eu dançava para fora dos limites das paralelas e alternava entre os espaços. De cada um deles eu lembrava, a seta lilás, a azul, a verde, a amarela, a laranja... Era tudo tão colorido e nítido e no meio de tudo aquilo me dei conta de que, afinal, duas grandes coisas haviam mudando muito nos últimos tempos: 1) com os nomes dos amigos não era mais tão difícil decorar cada trópico e 2) não haviam linhas suficientes para as amizades que aprendi a fazer ao longo da vida.